quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ódio da Al-Qaeda a Israel chega longe... até ao Peru

Os 13 mil quilómetros que separam o Peru de Gaza deveriam ser suficientes para Yehude Simon pensar muito pouco nos problemas do Médio Oriente. Mas, como o seu pai era um judeu oriundo da Palestina que há mais de meio século refez a vida nas Américas abrindo uma sapataria, o primeiro-ministro peruano faz parte da lista de potenciais alvos da Al-Qaeda, que num vídeo apelou à perseguição a todos os judeus. Estejam onde estiverem. Como Simon, outros nove milhões de pessoas estarão na mira de Ussama ben Laden, que tenta aproveitar a popularidade da causa palestiniana para recrutar muçulmanos para a sua jihad global. É esse o número de judeus que existirão fora de Israel (mais seis milhões lá).
A distância não garante hoje segurança, nem sequer ao primeiro-ministro peruano. Na lógica do terror anti-semita, os quilómetros contam pouco e a América do Sul é um alvo como qualquer outro. Que o digam os argentinos, que em 1994 viram o centro judaico em Buenos Aires ser alvo de um atentado que fez 85 mortos. Nessa época, a Al-Qaeda e Ben Laden tinham escassa fama e as suspeitas da bomba recaíram sobre o Hezbollah libanês e a secreta do Irão. Agora, a ameaça não vem dos radicais xiitas, mas sim da nebulosa rede extremista sunita que insiste em tentar aproveitar-se da causa palestiniana, velha luta nacional que sempre envolveu tanto muçulmanos como cristãos (lembram-se de Hannah Ashrawi, que chegou a negociar a paz com Israel? ).
É inegável que a maioria dos judeus do mundo se identifica com Israel, mas isso não significa uma atitude acrítica. Mesmo ignorando a seita ortodoxa Neturei Karta (que vive em Jerusalém mas não aceita o país e insiste em esperar pelo Messias), existem judeus que rejeitam o sionismo e preferem a integração nas sociedades onde vivem. E outros que conseguiram conciliar o seu patriotismo (peruano, americano, francês ou britânico) com uma adesão emocional a Israel, mas não deixam de funcionar como vozes de alerta quando os limites são ultrapassados. Foi o caso de um grupo de judeus britânicos, figuras destacadas de uma comunidade que ronda as 300 mil pessoas, que publicou em meados do mês no Observer um apelo ao fim do conflito em Gaza, tendo em conta a perda de vidas, sobretudo civis, no minúsculo território palestiniano. Entre os signatários estavam a baronesa Julia Neuberg e o rabino Tony Bayfield, que apregoam o seu amor a Israel, a solidariedade com as vítimas dos rockets do Hamas, mas mesmo assim pensam que bombardear Gaza é um erro. E que, claro, serve sobretudo para demonizar os israelitas.
Apelos como o do Observer revelam o pluralismo da comunidade judaica, mas pouco importam à Al-Qaeda. Em resposta ou não a Ben Laden, registaram-se incidentes na França, na Suécia e no Reino Unido contra alvos judaicos. Mais que os herdeiros do velho anti- -semitismo europeu, são sobretudo as comunidades muçulmanas que estão agora sob suspeita. No Reino Unido, por exemplo, vivem dois milhões de fiéis do islão, que a Al-Qaeda gostaria de recrutar. E Londres não é tão longe assim de Gaza. Só uns 3600 quilómetros.

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