quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A crise financiera

A crise financeira que preocupa o mundo está longe de ser resolvida, apesar dos bilhões em moeda que os governos de diversos países destinaram em socorro aos bancos em situação falimentar. Vale a pena, então, refletir sobre o particular da crise, pois não se trata apenas de assunto econômico-financeiro, mas ético.
Os empréstimos não são apenas um gesto solidário para com que, por alguma circunstância, padece de necessidade à qual não pode enfrentar. Pensemos num camponês que vê sua casa pegar fogo e perder todos os alimentos acumulados. Ele precisa que o vizinho lhe “empreste” grãos, ferramentas e outros utensílios até a próxima colheita. Os empréstimos também promovem a acumulação de excedentes. O vizinho pode compartilhar o pouco que tem, ou emprestar o muito do que lhe sobra. Poderá fazê-lo solidariamente ou cobrando juros.
Graças ao excedente, de colheita ou força de trabalho, o ser humano construiu uma civilização que o tornou independente da exclusiva tarefa de procurar alimento, e os empréstimos ou investimentos jogam um papel importantíssimo nesse desenvolvimento. Todo grande empreendimento precisa de investimentos para se concretizar. A indústria pesada necessita de engenharia e grandes instalações, financiáveis somente com o concurso de investidores. Esse sistema funciona sempre que o empreendimento seja exitoso e possa devolver o investido.
Desafortunadamente, ninguém pode garantir a devolução de um empréstimo em tempo e forma. Muitos fatores, que o tomador não controla em relação ao seu empreendimento, podem impossibilitá-lo de devolver o empréstimo pontualmente, mesmo sem intenção dolosa. Esse é o risco que correm os investimentos. Ele pode ser maior ou menor e, via de regra, o juro cobrado é maior em investimentos de maior risco.
Os bancos foram criados por causa da necessidade de resguardar excedentes monetários, mas também são intermediários entre os que possuem excedentes e os que deles necessitam. Nesse serviço o importante é analisar a situação daquele que pede um empréstimo, a fim de avaliar se o empreendimento lhe permitirá devolver o dinheiro com juros e com pontualidade. Em geral, são exigidas garantias para poder recuperar o empréstimo mediante o embargo das garantias se o montante emprestado não puder ser devolvido.
Dada a complexidade das transações comerciais e dos movimentos de dinheiro, é preciso avaliar com cautela a concessão de cada empréstimo antes de realizá-lo. É o que diz o sentido comum (de fato, habitual na microeconomia). O curioso é que na macroeconomia funcionários que manejam enormes somas alheias cobrando honorários altíssimos se dão ao luxo de serem descuidados nas análises de viabilidade, lançando-se em meganegócios cujo desenlace desconhecem, pois são de altíssimo risco.
Alegam sofrer a pressão dos acionistas de seus bancos. É que a ambição humana é ilimitada. Se manipulassem recursos de famílias ou de empresas donas de bens “sobrantes” talvez essa reflexão não se justificaria. Mas, desafortunadamente, também administram fundos de inúmeros pequenos poupadores que dependem dos recursos para garantir um teto, assegurar uma velhice digna e outras necessidades essenciais.
É injusto que essas pessoas paguem as conseqüências do mau manejo de macroeconomistas irresponsáveis. Em outras profissões é má prática é castigada, enquanto na macroeconomia tudo transcorre com total impunidade. Os fundos investidos por governos para resgatar bancos ou empresas falidas provêm do contribuinte comum, que não é precisamente um abonado. Também é sabido que em países desenvolvidos os fundos públicos destinados à saúde, educação, previdência social ou obras públicas são também os primeiros a sofrerem cortes. Tudo isso desafia qualquer critério de justiça e de eqüidade social.
Diante dessa situação perguntou-me que diria Jesus a respeito? Trato de ver com os seus olhos segundo suas intervenções. Na parábola dos talentos (Mateus 25,14ss), embora nos fale da promoção e multiplicação de bens espirituais, dá conta da existência em seus tempos do investimento, do “trabalho” com o dinheiro, da cobrança de juros. Sabe que isso é parte da mordomia de uma sociedade, o dá por assentado e não o critica especificamente.
Mas na parábola do rico insensato (Lucas 12,13ss) critica fortemente o egoísmo, a avareza e a acumulação. No relato do jovem rico (Mateus 19,16ss) e outros lugares, ele adverte sobre quão escravizante pode ser depender da riqueza. Sobre a acumulação também ensina a vantagem de juntar “riquezas no céu” (Mateus 6,19ss), onde as mesmas não estão sujeitas à deterioração, como ferrugem, roubo, acidentes, desvalorização, perdas.
Como conclusão, embora o capital seja útil para o desenvolvimento da socidade e o progresso da civilização, ele não pode ser a base sobre a qual construímos nossa vida (Mateus 7,24ss). Deve ser um “meio” de vida e não um “fim”. Deve ser administrado com responsabilidade, cuidando da justiça e da eqüidade, para que possa estar a serviço dos humanos.
Os juros devem ser razoáveis e a acumulação cumprir uma função social (Gênesis 41). Juros desmesurados, especulação, empréstimos sem cobertura, cedo ou tarde vão se defrontar com a sensível realidade de que alguém, ao final da cadeia, deverá pagar a conta.
Ganhos excessivos de uns geram a miséria de outros, o saque à natureza e a hipoteca da próxima geração. Queira Deus iluminar-nos para encontrar caminhos mais justos e menos alocados no manejo da riqueza, que, em última instância, é doação Dele, tanto no que faz a inteligência e a força de trabalho humanos, como aos bens da natureza.

0 comentários:

Compare Produtos, Lojas e Preços